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COMO O ESTRESSE SE TRANSFORMA EM MEDO

Medo, pânico… os pesquisadores identificaram o mecanismo cerebral pelo qual um evento estressante pode se transformar em medo persistente e irracional, ou até mesmo em um trauma.

É normal sentir-se estressado diante de dificuldades, ou com medo diante de uma ameaça. Este mecanismo inato de sobrevivência permite-nos permanecer vigilantes e evitar (ou fugir) dos perigos. Mas quando o medo é permanente e sem sentido, existe o risco de evoluir para distúrbios como ansiedade, fobias, depressão, síndrome de estresse pós-traumático (TEPT), etc. Mas como ocorre essa mudança?

Embora já conheçamos há muito tempo certas regiões do cérebro envolvidas nas emoções negativas – tal como a amígdala, e o “eixo biológico do estresse”, que permite ao nosso corpo reagir em caso de dificuldade, especialmente através da secreção de cortisol -, os processos envolvidos na transformação do estresse em medo permanente permaneceram desconhecidos.

E justamente por essa razão, Hui-Quam Li e seus colegas da Universidade da Califórnia, em San Diego, começaram a pesquisar esses “neurônios do medo”.

Para fazer isso, os pesquisadores trabalharam com ratos que, assim como nós, podem desenvolver uma forma de TEPT. Submetidos regularmente a choques elétricos em um compartimento específico de sua gaiola, os ratos começaram a serem “condicionados ao medo”: Pois os ratos associam a dor a esse local, e passam sistematicamente a se estressarem quando eles estão no local, mesmo sem sofrerem descargas elétricas.

Além disso, se na hora do condicionamento, os choques elétricos são muito intensos, os roedores ficam com medo, mesmo em local diferente daquele onde receberam os choques! Os animais desenvolveram, portanto, o que é chamado de “medo generalizado” semelhante ao TEPT. O que aconteceu em seus cérebros?

MUDANÇA DE NEUROTRANSMISSORES DENTRO DA “RAFE”

Estudos anteriores descobriram que o medo intenso, como um ataque de pânico, corresponde à atividade de certos neurotransmissores – moléculas que se comunicam entre os neurônios – nos circuitos dos núcleos de uma área nervosa chamada “RAFE DORSAL”, localizada sob o tronco cerebral; mais especificamente, é a atividade dos neurônios que secretam serotonina que tem sido associada a comportamentos de pânico. Porém, estes últimos também são capazes de co-liberar outra molécula, o GABA, o principal neurotransmissor inibitório do cérebro, ou mesmo o glutamato, o neurotransmissor excitatório mais abundante. Mas o que os pesquisadores notaram duas semanas após os choques elétricos, quando o medo generalizado se estabeleceu nos ratos?

Uma forma de plasticidade cerebral: em resposta ao estresse agudo e intenso – e não ao estresse fraco – os neurônios serotoninérgicos dos núcleos da rafe trocaram o “cotransmissor” majoritário, desta vez secretando mais GABA do que glutamato (sem modificação do número total de neurônios). Estes últimos também estavam ligados a outras regiões cerebrais conhecidas por estarem envolvidas no medo, como a amígdala.

Além disso, para provar que o choque elétrico de fato desencadeou essa plasticidade neuronal ao estimular o eixo de estresse do corpo e a secreção de glicocorticóides (incluindo o cortisol), que possuem receptores na rafe dorsal, os pesquisadores administraram cortisona a roedores submetidos apenas a choques elétricos fracos: esses animais desenvolveram então um medo generalizado como se tivessem sofrido o estímulo intenso, com uma transformação dos neurônios da rafe. Finalmente, mudanças semelhantes foram observadas nos mesmos neurônios em pessoas que morreram em decorrência de um transtorno de estresse pós-traumático – TEPT.

Será que podemos evitar esta mudança de neurônios serotoninérgicos e o estabelecimento do medo generalizado em roedores?

Sim, os pesquisadores conseguiram isto bloqueando em ratos a conversão dos neurónios serotoninérgicos da rafe ou dos seus receptores de glicocorticóides. Mas também injetando-lhes fluoxetina, um antidepressivo, sob a condição de fazê-lo dentro de quatro semanas após o condicionamento ao medo generalizado – tempo que persiste a plasticidade após os choques elétricos. Além desse tempo, os tratamentos foram ineficazes.

Porém, esse período corresponderia a aproximadamente três anos no ser humano, o que talvez represente o tempo, além do qual, o estresse intenso pode se transformar em trauma. Os pesquisadores sugerem, portanto, que seria possível evitar o aparecimento do medo irracional tratando rapidamente os indivíduos após um evento estressante.


REFERÊNCIAS

Hui-quan Li et al.Generalized fear after acute stress is caused by change in neuronal cotransmitter identityScience, 2024.

O CORAÇÃO TEM CÉREBRO …E ISSO NÃO É UMA METÁFORA!

Quando falamos que o coração tem cérebro, muitos podem pensar que estamos usando uma figura de linguagem para expressar a complexidade das emoções humanas.

O CORAÇÃO TEM CÉREBRO: UMA REALIDADE SURPREENDENTE

No entanto, essa afirmação vai muito além de uma simples metáfora. A ciência moderna tem revelado que o coração possui um sistema nervoso independente, tão sofisticado que é apelidado de “cérebro cardíaco”. Este sistema é composto por mais de 40 mil neurônios, neurotransmissores e células de suporte, o que confere ao coração capacidades surpreendentes.

COMUNICAÇÃO CORAÇÃO-CÉREBRO: UM DIÁLOGO DE MÃO DUPLA

Contrariamente ao que se pensava no passado, o coração não é apenas um receptor passivo de instruções do cérebro. Pesquisas recentes comprovam que o coração envia mais sinais ao cérebro do que o contrário, estabelecendo uma comunicação bidirecional e dinâmica. Essa interação contínua influencia a função de ambos os órgãos, afetando não apenas a saúde cardiovascular, mas também a saúde mental.

EMOÇÕES E SAÚDE: A INFLUÊNCIA DO CORAÇÃO

As emoções exercem um impacto significativo na saúde do coração. Sentimentos intensos como raiva ou tristeza podem aumentar consideravelmente o risco de ataque cardíaco e acidente vascular cerebral (AVC). Além disso, existe uma forte correlação entre distúrbios emocionais, como depressão e ansiedade, e doenças cardíacas. Pessoas que sofrem dessas condições tendem a ter uma expectativa de vida menor em comparação com aquelas que são mentalmente saudáveis.

O CORAÇÃO COMO ÓRGÃO INTELIGENTE

O coração é capaz de tomar decisões, aprender e até mesmo ter percepções, graças ao seu sistema nervoso autônomo. Ele pode influenciar a maneira como pensamos e percebemos a realidade, afetando diretamente nossas reações e emoções. O coração produz hormônios como a ANF, que promove o equilíbrio do corpo, e a oxitocina, conhecida como o hormônio do amor, reforçando ainda mais sua influência sobre o nosso bem-estar geral.

AS QUATRO CONEXÕES DO CORAÇÃO

Existem quatro tipos principais de conexões que partem do coração em direção ao cérebro: neurológica, bioquímica, biofísica e energética. Cada uma dessas conexões desempenha um papel vital na maneira como o coração comunica com o cérebro e o resto do corpo, influenciando desde a nossa percepção até a nossa saúde física e emocional.

O CAMPO ELETROMAGNÉTICO DO CORAÇÃO

O campo eletromagnético do coração é o mais forte de todos os órgãos do corpo, sendo 5 mil vezes mais intenso que o do cérebro. Esse campo varia conforme o estado emocional da pessoa, podendo se tornar caótico durante o medo ou o estresse e harmonioso quando experienciamos emoções positivas. Essa energia pode ser sentida por outros ao nosso redor, afetando o ambiente em que vivemos.

ATIVANDO O CIRCUITO CEREBRAL DO CORAÇÃO

Para ativar o circuito cerebral do coração, é essencial cultivar qualidades como abertura, paciência, cooperação e coragem. A prática de pensamentos e emoções positivas é a chave para desbloquear esse potencial. Ao nos libertarmos de mecanismos primitivos como medo, desejo e instinto de dominação, podemos acessar uma inteligência superior e uma percepção mais exata da realidade.

O CORAÇÃO E A MEDICINA TRADICIONAL CHINESA

A medicina tradicional chinesa há muito reconhece o coração como o centro do “CHI”, um termo que engloba emoções, consciência, mente e psique. O coração é visto como o imperador do corpo humano, comandando os meridianos e influenciando a vitalidade física e mental. Essa sabedoria antiga ecoa as descobertas contemporâneas sobre a importância do coração na nossa saúde e bem-estar.

CONCLUSÃO: OUVINDO O CORAÇÃO

Aprendendo a ouvir o nosso coração, podemos experimentar mudanças significativas em nossa vida e saúde. Ao cultivar o silêncio, conectar-se com a natureza, meditar e cuidar do nosso ambiente vibracional, podemos sintonizar com a sabedoria do coração. Eu convido você a explorar essa conexão profunda e a reconhecer o coração não apenas como um órgão vital, mas como uma fonte de inteligência e consciência.

Auricy T.


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CRIAR UM NOVO HÁBITO: QUANTO TEMPO LEVA?

De acordo com um equívoco comum, levaria 21 dias para criar um novo hábito, ou seja, para que um novo comportamento (por exemplo, parar de fumar, praticar esportes, limitar o tempo de tela, etc.) se tornasse parte de nossos hábitos. Mas será que esta afirmação é credível?

Assim que o sol nascer, vou colocar meu tênis e sair correndo. Fácil? No papel, sim. Mas, na prática, para criar um novo hábito, para integrar essa nova atividade em uma rotina, será preciso um mínimo de determinação, mas também de tempo. Mas quanto tempo?

De acordo com uma teoria de origem mal definida, levaria 21 dias para que uma nova prática se tornasse um hábito arraigado. Três semanas que, segundo Colin Camerer, economista comportamental do Instituto de Tecnologia da Califórnia, não pareceriam intransponíveis para alguém que faz sua resolução por ocasião do ano novo, por exemplo. Nos Estados Unidos, estima-se que 9% das pessoas tenham alcançado com sucesso as metas estabelecidas para o ano de 2023. Na França, 7% conseguiram reduzir o consumo de álcool, 11% fazer dieta e 17% passar menos tempo em frente a uma tela de computador, de acordo com uma pesquisa da Ipsos.

Na verdade, o tempo que leva para criar um novo hábito varia muito de pessoa para pessoa. A repetição é a chave de tudo, de acordo com Philippa Lally, professora sênior de psicologia e codiretora do grupo Habit Application and Theory da Universidade de Surrey, na Inglaterra. Junto com seu colega Colin Camerer, ela oferece métodos individualizados para aprender a consolidar certos comportamentos que queremos perpetuar.

De acordo com a teoria das três semanas, portanto, seriam necessários 21 dias para formar um novo hábito. Mas de onde vem esse número? Originalmente, ele foi mencionado em um livro publicado na década de 1960, chamado Psycho-Cybernetics, do cirurgião plástico Maxwell Maltz. Seu argumento? Ele havia observado que, após uma operação, seus pacientes levavam em média 21 dias para se acostumar com seu novo físico. Um resultado que Maxwell estendeu para outros campos: seria também a quantidade de tempo necessária para se acostumar com um novo lar ou para mudar suas crenças. Um número que aos poucos foi se tornando mais democrático, sem qualquer estudo estatístico que sustentasse sua precisão. Se essa teoria ainda se mantém, provavelmente é porque não é muito difícil de aceitar, de acordo com Colin Camerer. Pois ninguém consegue acreditar que leva apenas alguns dias para criar o hábito de correr todas as manhãs. E ter que esperar 12 meses para que uma prática se torne uma segunda natureza, é muito longo. No final, 21 dias é um tempo realista que parecia fazer todos concordarem!

No entanto, um estudo realizado por Philippa Lally em 2009 encontrou resultados muito diferentes. Os pesquisadores pediram a 96 voluntários que escolhessem qual dessas duas práticas queriam incorporar em suas vidas diárias: melhor hidratação ou atividade física. Os participantes foram instruídos a experimentar esse comportamento todos os dias durante 12 semanas. Resultados: os hábitos foram estabelecidos após durações muito díspares, variando de 18 a 254 dias, com um tempo médio de 66 dias, ou seja, mais de três vezes mais do que os 21 dias inicialmente propostos. E o fato de um comportamento ser repetido diariamente determinava em grande parte se ele ficaria ou não ancorado no tempo, explica a pesquisadora de psicologia.

Claro, também depende da condução que você deseja automatizar. É bem diferente querer incorporar uma nova atividade esportiva ou uma prática familiar, como beber mais água, em sua rotina diária. Em 2015, um estudo concluiu que os novos frequentadores de academias tinham que malhar pelo menos quatro vezes por semana durante um mês e meio antes que seu novo treino se tornasse rotina. Da mesma forma, Colin Camerer e seus colegas mostraram, em seu trabalho, que leva apenas algumas semanas para ter o reflexo de lavar as mãos todos os dias, mas que você tem que insistir em seis meses para tornar uma prática esportiva regular em sua vida.

Tal diferença, segundo o estudo, pode ser explicada pela complexidade e recorrência da tarefa. Geralmente temos mais oportunidade – e comodidade – de lavar as mãos do que praticar esportes. Além do esforço exigido, os pesquisadores enfatizam a importância de elementos externos que funcionam como lembretes da atividade a ser praticada (um post-it na cozinha, um alerta no celular, um compromisso semanal com um amigo, etc.).

Em segundo lugar, as resoluções de Ano Novo têm uma tendência infeliz para se esgotarem. É por isso que existem alguns truques que podem ajudá-lo a cumprir suas promessas. Uma delas é imaginar como essa nova medida pode ser implementada na prática. Por exemplo, se você quer aprender espanhol, é melhor deixar claro que deseja estudar o idioma por 20 minutos, três vezes por semana, em vez da vaga ideia de “querer aprender espanhol”. Um amigo ou um aplicativo em seu smartphone também pode ajudá-lo a manter sua força de vontade intacta. Finalmente, uma resolução que você realmente quer será mantida ao longo do tempo muito mais facilmente do que quando é tomada, porque você se sente compelido a fazê-la.

Mas como falar de motivação sem falar em recompensas?

Embora sejam importantes, Lally ressalta que as pessoas geralmente cometem o mesmo erro: se recompensam tarde demais. As pessoas que acabaram de começar a se exercitar só são recompensadas com seu desempenho da semana quando o fim de semana chega. No entanto, para se manter motivado, a recompensa deve ser obtida durante o esforço ou imediatamente após. Por exemplo, se você assiste a um filme que gosta enquanto corre em uma esteira, a recompensa do filme é associada à corrida e estimula o circuito de motivação. Esse princípio foi ilustrado em 2014 por pesquisadores que pediram aos participantes que ouvissem audiolivros – geralmente populares entre o público em geral, como Jogos Vorazes ou O Diabo Veste Prada – durante cada uma de suas sessões esportivas por nove semanas. Como resultado, essas pessoas retornaram à academia em média 51% mais frequentemente do que aquelas que não haviam sido instruídas a fazê-lo.

Phillipa Lally também aconselha associar o comportamento desejado a uma prática já bem estabelecida no dia a dia. Por exemplo, um indivíduo que vai trabalhar duas vezes por semana é bem aconselhado a planejar seus treinos no final dos dois dias. Desta forma, o seu trabalho no escritório – um comportamento que já está integrado no seu dia a dia – estará associado ao novo comportamento a automatizar: o exercício físico. Uma conexão neural é então criada entre as áreas do cérebro dedicadas à memória e à formação de hábitos. Ao repetir esses comportamentos, essa conexão se fortalece e leva a pessoa – inconscientemente – a se exercitar após sua jornada de trabalho. Esta é a base do que é conhecido como “aprendizagem por associação”.

Por fim, é importante criar um ambiente propício para a nova prática que você almeja, para criar um novo hábito. Este é o papel que as pistas visuais ao nosso redor podem desempenhar: se quisermos comer mais frutas, uma cesta cheia de diferentes variedades e destacada terá um papel facilitador. Mesmo truque quando se trata de quebrar um mau hábito. Quando você quer parar de beber, é melhor não deixar uma garrafa de vinho tinto ou uma lata de cerveja no fundo do armário na geladeira. Mas um vício grave em álcool ou drogas requer a ajuda de um especialista.

O que acontece quando você perde a consistência?

Faltar um ou dois dias da sua rotina diária pode acontecer. De acordo com Philippa Lally, as pessoas impõem a si mesmas programas muito rigorosos que exigem esforço diário e, portanto, são inatingíveis. O problema é que quando elas não cumprem seus objetivos ou estabeleceram uma meto alta – percorrer 10 quilômetros todos os dias! – elas ficam relutantes em fazê-lo novamente.

Nessas fases de desmotivação, Philippa Lally propõe-se a tentar perceber de onde vem esta falta de motivação e encontrar soluções para resolver o problema. Se, apesar de tudo, não funcionar, então você tem que adaptar a prática para que seja mais fácil de alcançar: busque um esforço menos intenso, em um ritmo mais lento e, finalmente, não hesite em revisar os objetivos para torná-los mais acessíveis. Se amarrar seus tênis e correr por alguns minutos ao longo do quarteirão parece insignificante, diga a si mesmo que não será quando você adquirir o hábito de fazê-lo regularmente.


PONTOS-CHAVE DO ARTIGO

Segundo uma lenda urbana, levaria 21 dias para formar um hábito. Essa observação já foi refutada por estudos científicos que mostram que essa duração varia muito de um indivíduo para outro e está mais próxima de 66 dias, em média.

Uma chave para se tornar um novo comportamento em uma rotina, para criar um novo hábito: juntá-lo com outro que já é.

Outro ingrediente fundamental é associar uma recompensa à nova prática que você deseja adotar, no exato momento em que a faz. Isso é aprendizagem associativa.​​​​​


REFERÊNCIAS

Lally, et al., How are habits formed : Modelling habit formation in the real world, Eur. J. Soc. Psychol., 2010.

Kaushalet al., Exercise habit formation in new gym members : A longitudinal study, J. Behav. Med., 2015.

Buyalskaya et al.,What can machine learning teach us about habit formation ? Evidence from exercise and hygiene, PNAS, 2023.

K.L. Milkman et al., Holding the Hunger Games hostage at the gym : An evaluation of temptation bundling, Manage Sci., 2014.

OS HUMANOS USAM 100% DE SEUS CÉREBROS

Afinal, os humanos usam 10% ou 100% de seus cérebros?

“A maioria dos seres humanos usaria apenas 10% de seus cérebros. Mas imagine se os humanos conseguissem usar 100% de seus cérebros?”, questiona Morgan Freeman no filme Lucy, de Luc Besson.

Mas será que estamos realmente usando apenas 10% da capacidade do nosso cérebro?

Muitos fatores alimentaram a ideia de que os humanos usam apenas 10% de seus cérebros. Mas isso é um mito. Um neuromito precisamente. Para Christophe Rodo, doutorando em neurociência no CNRS: “O mito dos 10% é totalmente falso! Não há evidências que confirmem isso. Na verdade, estamos usando nossos cérebros a 100% de sua capacidade.”

Em 2013, uma pesquisa americana realizada pela Michael J Fox Foundation for Parkinson’s Research descobriu que 65% das pessoas acreditam nesse mito.

A ORIGEM DO MITO

Um homem tentou rastrear as origens do mito dos 10%. Ele é Barry L. Beyerstein, cientista e professor de psicologia na Simon Fraser University, em Burnaby. Para ele, esse mito vem de um grande psicólogo americano do século passado, William James: “Em seus trabalhos, ele gostava de dizer que a pessoa média raramente chega a 100%, mas apenas uma pequena parte de seu potencial”. Pesquisadores da Université de Montréal também tentaram rastrear a fonte. De acordo com eles, Albert Einstein foi creditado por dizer que suas altas habilidades intelectuais são devidas à sua capacidade de usar mais de 10% de seu cérebro.

COMO USAMOS AS HABILIDADES DO CÉREBRO?

“Os seres humanos usam 100% de seus cérebros, ou seja, todo o cérebro, exceto em casos de lesões graves. Mas nem todas as peças funcionam 100% ao mesmo tempo. A porcentagem exata que usamos varia de pessoa para pessoa. Portanto, não podemos saber exatamente com certeza”, diz Barry Beyerstein.

Nos últimos anos, estudos de ressonância magnética mostraram que a atividade cerebral é detectável por pequenas áreas que se iluminam na tela. É verdade que você nunca vê todas as áreas ativas ao mesmo tempo. Joe Doux, professor de neurociência e psicologia da Universidade de Nova York, diz: “O cérebro pode estar 100% ativo realizando uma tarefa, mesmo que apenas uma pequena parte dele seja inteiramente dedicada a ela”. Até agora, nenhum experimento descobriu neurônios inúteis.

O QUE ACONTECERIA SE USÁSSEMOS 100% DE NOSSAS FUNÇÕES O TEMPO TODO?

Nossos cérebros seriam poderosos demais para nossos corpos lidarem. Da mesma forma que um carro consome mais em primeira, o motor explodiria. O cérebro representa 2% da nossa massa corporal e consome cerca de 20% da nossa energia. Em consequência, isso exigiria uma forte irrigação de sangue.

Diante da falta de oxigênio, o corpo entraria em modo de sobrevivência. Diferentes órgãos deixariam de funcionar em ordem de importância. Além disso, nossos neurônios trabalhariam o tempo todo, nossos cinco sentidos precisariam analisar constantemente. Portanto, tornaria nossos julgamentos um pouco obscuros.

De acordo com o estudo da Université de Montréal: “Pode-se também pensar que essa ideia preconcebida persiste porque alimenta a esperança legítima e provavelmente bem fundamentada de que podemos melhorar”. Um neuro mito que nos faz sonhar.


REFERÊNCIAS

S. Herculano-Houzel, Do you know your brain ? A survey on public neuroscience literacy at the closing of the decade of the brain, The Neuroscientist, 2002.

“ONDAS CEREBRAIS VIAJANTES” CARREGAM SUAS LEMBRANÇAS

Você memoriza um fato novo e uma onda elétrica o transporta da parte de trás para a frente do seu cérebro. Você se lembra disso, e a mesma onda o traz de volta, da parte da frente para a parte de trás do seu cérebro

Você acabou de chegar a um novo país e está diante de um monumento esplêndido. Uma imagem que, inevitavelmente, fica arraigada em sua memória. Seu cérebro “codifica” essa memória: ele registra essa memória e a armazena em algum lugar em seus neurônios. Mas como ele faz isso?

Anos depois, as imagens, sons e cheiros inundam, recriando subitamente a sensação de estar em frente ao monumento em questão. Aí você se lembra dessa lembrança. O que aconteceu?

Bem, em seu cérebro, a memória também viajou. No momento da codificação, ela foi carregada por uma onda elétrica gerada pelo cérebro, chamada de “onda viajante”. Ela se moveu do ponto de entrada da memória, em uma área chamada hipocampo, para a frente do cérebro, no lobo frontal. Então, quando você recupera essa memória, a onda percorre o caminho oposto para trazê-la de volta para você. E você tem isso na frente dos seus olhos.

Como esse fenômeno foi descoberto?

Na Universidade de Nova York, um grupo de quatro cientistas realizou experimentos de eletrocorticografia: uma técnica que envolve implantar minúsculos eletrodos na superfície do cérebro dos voluntários e registrar as descargas elétricas produzidas por essas células nervosas quando elas recebem vários testes. É claro que esse tipo de operação não é realizado apenas para descobrir como as memórias se movem: essas pessoas têm que fazer uma cirurgia cerebral de qualquer maneira para curar crises epilépticas, e as equipes de pesquisa simplesmente aproveitam isso, com sua concordância, para realizar exames adicionais. Eles colocaram eletrodos de gravação na superfície do córtex de 93 pacientes e pediram que aprendessem listas de palavras e, depois de um tempo de espera, recuperassem o maior número possível, dessas palavras, da memória. Dessa forma, puderam estudar a fase de codificação e recuperação das memórias.

UM VAI-E-VEM DE ONDAS DE MEMÓRIA

Os pesquisadores então observaram que, no momento da codificação, os neurônios localizados no nível da têmpora emitiam ondas a uma frequência de 10 herz, ou dez oscilações por segundo. No entanto, essas ondas não permaneceram confinadas aos neurônios do córtex temporal: eles se moviam em direção à parte frontal do cérebro, em direção ao lobo frontal, a uma velocidade de cerca de um metro por segundo (3,6 km/h, aproximadamente a velocidade da caminhada). Em seguida, durante a fase de recuperação da memória, quando os participantes procuravam recordar as palavras que haviam visto na lista, a mesma onda percorreu o caminho oposto, retornando do lobo frontal para o lobo temporal para “trazer de volta a memória”.

O que essas observações nos dizem sobre como a memória funciona?

É como se as lembranças fossem enviadas para um departamento central localizado no lobo frontal, pronto para ser recuperado por ele quando quisesse. Quando queremos recordar informações, essa “vontade” é tipicamente exercida pelo lobo frontal. Mas a observação dessa onda fornece outra informação: trata-se de uma propagação relativamente lenta, comparada a outros fenômenos neurais que podem atingir velocidades de 100 metros por segundo (ou 360 km/h). Esses modos de condução da informação neural provavelmente seguem vias superficiais, ao longo dos ramos horizontais dos neurônios chamados dendritos, que são lentos para conduzir, e não vias profundas que mobilizam axônios de condução rápida. Um pouco como as ondas na superfície de um lago. Resta saber por que…

Fonte = Sébastien Bohler (Docteur en neurosciences et rédacteur en chef de la Révue Cerveau & Psycho).

O PODER DA COERÊNCIA CARDÍACA: CONTROLANDO SUA RESPIRAÇÃO PARA GERENCIAR O ESTRESSE

Ser mais zen, todos nós sonhamos com isso. Para alguns, isso é até mesmo uma necessidade. O nosso bem-estar está em jogo, mas também muitas vezes a nossa saúde. No entanto, temos de admitir que o nosso estilo de vida, muitas vezes agitado, não incentiva a serenidade. Como podemos nos tratar de um momento real de recuperação e reharmonizar nosso corpo e nossas emoções?

Existem muitas abordagens que permitem que você relaxe e recarregue suavemente. Quanto mais você praticá-los, melhores serão os resultados. Ser capaz de se centrar rapidamente também é, às vezes, muito importante.

MAS EXISTE UM CAMINHO RÁPIDO PARA A SERENIDADE: A COERÊNCIA CARDÍACA

Você sabe o que é a coerência cardíaca? David Servan-Schreiber, que foi médico e pesquisador da neurociência cognitiva, ele nos apresentou isso em seu magnífico livro, Healing. Ele o considerou um dos 7 métodos mais eficazes para superar o estresse, a ansiedade, a depressão e, claro, todas as doenças que o acompanham. Graças a ele, mais e mais pessoas estão agora praticando o que poderia ser descrito como regulação voluntária da frequência cardíaca. Existem até livros, cursos e seminários dedicados a à Coerência Cardíaca.

No entanto, nada mais simples do que treinar tranquilamente para recuperar em poucos minutos aquela famosa coerência cardíaca, uma verdadeira chave para o bem-estar, para o dinamismo e para uma vida melhor. Para experimentá-lo imediatamente, comece fazendo duas respirações lentas e profundas e, em seguida, deixe sua atenção acompanhar a respiração até o final da expiração e deixe-a fazer uma pausa por alguns segundos antes que a próxima inspiração se desencadeie. Você realmente tem que se deixar levar pela expiração até o ponto em que ela naturalmente se transforma em uma espécie de suavidade e leveza.

Os exercícios de meditação oriental sugerem continuar essa prática centrada na respiração pelo maior tempo possível e manter sua mente vazia. Mas para maximizar a coerência cardíaca, após 10 ou 15 segundos dessa estabilização, você precisa mudar conscientemente sua atenção para a área do coração em seu peito.

Para este segundo passo, a maneira mais fácil é imaginar que você está respirando através do seu coração (ou da região central do seu peito, se você ainda não sente seu coração diretamente). Enquanto continua a respirar lenta e profundamente, mas sem forçar, você precisa visualizar – até mesmo sentir – cada inspiração e expiração que passa por essa parte tão importante do seu corpo.

Imagine que a inalação lhe traz o oxigênio de que tanto precisa, e que a expiração permite que ela se livre de todos os resíduos de que não precisa mais. Imagine os movimentos lentos e suaves de inspiração e expiração que deixam o coração se lavar neste banho de ar puro, clareador e calmante. Não lhe peça para fazer nada além de ser ele mesmo, em seu elemento natural, e apenas observe-o se desdobrar à sua maneira, continuando a trazer-lhe um ar suave e terno.

COERÊNCIA CARDÍACA: COMUNICANDO-SE COM SEU CORAÇÃO

O terceiro passo é conectar-se com a sensação de calor ou de expansão que se desenvolve dentro do peito, acompanhando-o e incentivando-o com os pensamentos e a respiração.

Ela costuma ser tímida no início, e se manifesta discretamente. Depois de anos de abuso emocional, o coração às vezes é como um animal que está hibernando há muito tempo. Um método eficaz de encorajá-lo é evocar diretamente um sentimento de reconhecimento ou de gratidão e deixá-lo invadir o seu peito. O coração é particularmente sensível à gratidão, a qualquer sentimento de amor, seja por um ser, uma coisa ou mesmo pela ideia de um universo benevolente. Para muitas pessoas, basta evocar o rosto de uma criança que ama e que lhe ama, ou o de um animal de estimação. Para outros, será uma cena de paz na natureza que trará consigo gratidão interior. Finalmente, para outros ainda, esse sentimento virá com uma lembrança de um momento de felicidade.

Durante esse exercício, às vezes notamos que um sorriso sobe suavemente até os lábios, como se tivesse nascido no peito e desabrochado no rosto. É um simples sinal de que a consistência foi estabelecida.

Quanto mais você praticar, usando essa técnica, mais fácil se torna se tornar consistente. Uma vez que a pessoa se familiarizou com esse estado interior, ela tornou-se capaz de se comunicar diretamente com o coração dela, por assim dizer. E por um bom motivo: o equilíbrio do coração influencia o do cérebro. Pois, se o coração está coerente, o cérebro também estará coerente.

E você já praticou a coerência cardíaca? Nos conte aqui nos comentários.

E se você ainda não praticou, CLIQUE AQUI e faça a prática com a ajude deste vídeo, eu tenho certeza de que você adorar.

Auricy T.