Estamos diante de um colapso econômico e ecológico. Manter o crescimento do PIB, aumentar o emprego, reduzir as desigualdades e ao mesmo tempo diminuir os impactos ecológicos são desafios impossíveis de serem alcançados a médio e longo prazo.
Mesmo que o PIB alcance temporariamente taxas positivas, não haverá aumento importante do número de empregos. A revolução promovida pela inteligência artificial não absorve mão de obra pouco qualificada. O crescimento econômico é, e seguirá benéfico apenas para um pequeno número de pessoas tecnicamente capacitadas.
Em que pese o fato de que o mundo jamais tenha produzido e consumido tantos bens e serviços, a concentração de renda verificada nas mãos de uma minoria aumentou nas últimas décadas, desde o predomínio das políticas neoliberais aplicadas há quatro décadas. O processo de substituição do trabalho humano por máquinas segue sua trajetória ascendente – o aumento da produtividade tendo como contrapartida a redução do emprego. E as máquinas necessitam de energia fóssil para funcionar. Em torno do que é produzido e consumido no mundo depende de 85% de energias fósseis para funcionar (carvão, petróleo, gás natural). E o valor agregado gerado por estas máquinas e robôs usados na produção e consumo é apropriado pelos detentores do capital. Segundo a Oxfam International, em torno de 80% da riqueza do planeta é apropriada por 1% da população mundial.
O crescimento do PIB causa a degradação do meio natural, intensifica os danos das atividades de humanas de produção e consumo sobre a atmosfera, hidrosfera, litosfera e sobretudo sobre a biosfera, um verniz que envolve a Terra onde a vida prospera. Em consequência do consumo de energias fósseis e de matérias primas. Não há como desacoplar, ou dissociar, o crescimento do PIB dos danos causados a meio natural. O crescimento do PIB significa aumentar o número de máquinas que se nutrem de energia e matérias primas. A quantidade de energia contida em um litro de petróleo, ao ser usada em máquina, substitui o trabalho de um homem durante 100 dias.
Assim, o crescimento do PIB não soluciona o problema do emprego, a distribuição de renda e tampouco a crise ecológica.
Seguir neste caminho significa levar a humanidade ao colapso através de uma crise ecológica sem precedentes: elevar a temperatura média acima de 2ºC em meados deste século (2050), perda de biodiversidade e esgotamento dos recursos naturais. Comprometer as condições de habitabilidade dos seres humanos sobre a face da Terra, bem como dos demais viventes não-humanos.
Que fazer diante desta catástrofe, deste colapso econômico e ecológico, que já está em curso no nosso cotidiano? É uma questão que resta aberta e sobre a qual ainda não temos uma solução pronta. Um caminho a ser construído com urgência.
(*) Tomás Togni Tarquinio.
Antropólogo pela Universidade de Paris VII, pós graduado em Prospectiva Ambiental pela EHESS. Ex-diretor de estudos no GERPA, CREDOC. Consultor América Latina e Europa. Membro do Institut Momentum.