CRÍTICA A SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS PARA A CRISE ECOLÓGICA

A socióloga Sophie Dubuisson-Quellier, em sua apresentação, oferece uma visão crítica sobre a abordagem comumente adotada em relação às soluções para as crises ambientais e sociais contemporâneas. Ela argumenta que a tendência de buscar soluções prontas e aplicáveis de forma generalizada, sem considerar a complexidade das interações sociais e a estruturação das sociedades, pode levar a um impasse ou até mesmo a um retrocesso nas ações de combate às mudanças climáticas e outros desafios globais.

CRÍTICA AO SOLUTIONISMO TECNOLÓGICO

Dubuisson-Quellier destaca que as soluções tecnológicas, frequentemente vistas como a chave para a descarbonização e a resolução de problemas ambientais, não são elementos neutros que podem ser simplesmente inseridos na sociedade. Elas estão imersas em complexas interdependências sociais, técnicas e políticas. A socióloga ressalta que as tecnologias contêm “scripts” sociais, ou seja, pressupostos sobre como serão fabricadas, financiadas, implementadas e utilizadas, o que muitas vezes é negligenciado por visões excessivamente otimistas.

OS MODOS DE VIDA E A QUESTÃO DOS COMPORTAMENTOS

Outro ponto abordado por Dubuisson-Quellier é a ideia de que a mudança nos modos de vida, frequentemente reduzida a uma questão de alteração de comportamentos individuais, é na verdade um fenômeno muito mais complexo. Os modos de vida são constituídos por práticas sociais enraizadas em organizações sociais, técnicas e econômicas, e são moldados por trajetórias históricas longas e padrões de vida legitimados socialmente. A socióloga argumenta que mudar esses modos de vida requer uma compreensão profunda das estruturas coletivas que os sustentam e das inércias que eles apresentam.

NOVOS IMAGINÁRIOS E A CONSTRUÇÃO SOCIAL

A terceira perspectiva criticada por Dubuisson-Quellier é a crença de que a criação de novos imaginários e narrativas pode, por si só, levar à transformação das sociedades. Ela argumenta que o consumismo, por exemplo, não é simplesmente um “conto” que foi imposto à sociedade, mas sim o resultado de um processo de longo prazo, altamente institucionalizado e baseado em relações e estruturas de poder. A socióloga enfatiza que as mudanças necessárias para enfrentar os desafios ambientais e sociais atuais exigem ações concretas e mudanças nas políticas públicas, nas práticas empresariais e nas instituições sociais.

DESAFIOS PARA A MUDANÇA SOCIAL

Sophie Dubuisson-Quellier aponta que, para efetuar uma mudança social significativa, é preciso ir além da prescrição de soluções simplistas e considerar as dimensões sociais complexas que estão em jogo. Ela sugere que é necessário produzir mais pesquisas e compreender os bloqueios da sociedade carbonizada, identificando as interdependências e o papel das articulações entre modelos de negócios e instrumentos macroeconômicos. A socióloga também destaca a importância de abordar as desigualdades inerentes à sociedade do carbono e de construir novas interdependências que promovam uma distribuição mais justa dos recursos cada vez mais escassos.

CONCLUSÃO: A IMPORTÂNCIA DE REPENSAR AS ESTRATÉGIAS

Em conclusão, Sophie Dubuisson-Quellier nos convida a repensar as estratégias de combate às mudanças climáticas e outros desafios globais, enfatizando a necessidade de uma abordagem que leve em conta a complexidade das sociedades e a interconexão entre as esferas social, econômica e ambiental. Ela nos lembra que as soluções não estão prontamente disponíveis em uma “prateleira”, mas devem ser cuidadosamente experimentadas, testadas e adaptadas às realidades sociais específicas. A socióloga nos desafia a reconhecer que a resolução dessas crises é um processo social e político intrincado, que requer uma reavaliação profunda das organizações sociais e políticas e dos valores que as sustentam.


(*) Tomás Togni Tarquinio.

Antropólogo pela Universidade de Paris VII, pós graduado em Prospectiva Ambiental pela EHESS. Ex-diretor de estudos no GERPA, CREDOC. Consultor América Latina e Europa. Membro do Institut Momentum.